DRAMATURGIA BRASILEIRA OU DRAMATURGIA EIXO RIO-SÃO PAULO?

[PENSAMENTO]
Fico intrigada com algumas coisas sobre dramaturgia e sempre digo que quero e vou mudar o mundo. Esses dias, lendo e relendo sobre o Teatro Brasileiro – em primeiro lugar, a partir do estudo do livro Teatro Contemporâneo no Brasil, do minucioso e criativo professor Doutor José da Costa (Unirio) e, em segundo lugar, a partir da leitura da revista Bravo, edição especial do Teatro Brasileiro, que considerei concisa e crítica, ao mesmo tempo (obrigada, Luísa), além da minha formação teatral e de dramaturga –, pensei que será oportuno levantar a seguinte enquête: Teatro Brasileiro só existe mesmo no eixo Rio-São Paulo? Sabemos muito bem que, historicamente e culturalmente, o sudeste é sem dúvida o lugar de formação, permanência e fomentação das atividades intelectuais, humanas e artísticas do país: as pesquisas na área de memória, arquivamento, publicação e apoio às ciências humanas é radicalmente oposta em relação a outras regiões. Podemos ver por exemplo que a maioria das publicações de pensamento sobre artes cênicas se originam de São Paulo. Digo e afirmo, todo esse conhecimento histórico-artístico deve ser gerenciado e discutido, e mantido ao longo dos tempos, principalmente, na formação dos nossos artistas cênicos do futuro. Devemos saber sim que foi Anchieta, quando o Brasil começou a se profissionalizar no Teatro, saber quem foi e o que significou Oswald de Andrade, Zé Celso Martinez, Arena, TBC, Nelson Rodrigues, entre outros. Mas será que com toda a ideia de internacionalização, descentralização de pontos de vistas valorativos e hierárquicos, ainda precisamos permanecer imersos, como diz o sociólogo e teórico literário paulista Roberto Schawrz: numa ideia de subtração nacional? As áreas: nordeste, sul, centro oeste e norte, não produzem alguma dramaturgia? Gero Camilo tem que ir para São Paulo, para ser reconhecido? Pode parecer falso idealismo ou incoerência, uma paulistana à mineira como eu, dizer tais coisas... talvez seja por isso mesmo, que me considero lá, no centro intelectual, encantada com um mundo de possibilidades de experimentação e pesquisa e aqui, meio Belo Horizonte e meio Ouro Preto, criando lugares de fazer teatro, abrindo discursos locais e acreditando que o fazer artístico não tem pedestais ou deslumbramentos... Em Minas Gerais, por exemplo, muita gente não conhece João das Neves, Jota D´Angelo, Eid Ribeiro, Walmir José, esse último foi inclusive professor da UFOP e os novos Grace Passô ou Anderson Aníbal. Isso sem falar nas outras regiões do país, que devemos cada vez mais fazer um levantamento e pesquisas árduas. É evidente também que encontramos outro problema: a falta de publicação e legitimação dos artistas locais, ou seja, “santo de casa não faz milagre”. Levanto a questão: como continuar nos conectando com os contemporâneos do eixo Rio-São Paulo (porque renegar seu lugar hoje seria cair na mesma armadilha da valoração hierárquica) e, ao mesmo tempo, (re) descobrir nossos dramaturgos escondidos nas salas de ensaios e gabinetes, deste Brasil afora? Assim, como o gênio e impertinente Haroldo de Campos que desafiou Antonio Candido na sua tese O sequestro do Barroco na formação da literatura brasileira, acredito que, mesmo ainda sem o conhecimento e levantamento atual de todos os dramaturgos do Brasil, a história mostrará gênios teatrais escondidos nos lugares mais recônditos inimagináveis. E iremos lê-los, encená-los e degluti-los. E ponto.

Grande abraço a todos, sem exceção, artistas do Brasil.
Letícia Andrade

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