Pelo Drama! Não! Pelo Espectador!

Hoje li um artigo que achei polêmico, mas traz uma verdade, sim, o extremo experimentalismo, hermético, incomunicável, no mal sentido!!!!!, vazio de conteúdo, torna-se vazio também na forma, citando Peter Szondi, que cita Hegel... Eu tenho preguiça, muita... Existem várias formas de dramas e nem tudo é pastiche novelesco enlatado...Eu gosto de boas histórias, de jogos narrativos e de uma desconstrução que sabe o que é ser inteiro para ser desconstruído, como dizem os pós-modernos como Lyotard... O problema não são três horas de peça ou o uso da tecnologia, mas o pedantismo das linguagens que não sabem se sustentar. O "ostrascismo dos teatros vazios" me soa como uma polêmica, que patina sob nossos tetos de vidros: todo mundo culpa alguma coisa e os artistas cheios de ego dizem que são "artistas"... (blah...que novidade!) e que não precisam ser compreendidos... Me poupe! Sabemos que a comunicação na arte é de outra ordem, sim: pela percepção e experiência e batatinha quando nasce se esparrama pelo chão... Acho importante SIM proporcionar experiência para o espectador!!!! Não produto enlatado de consumo, não estereótipos vazios de "espetacularzinhos" descolados, nem "lambanças" que queimam o nobre nome da performance, e que ao meu ver é uma coisa radical! Mas proporcionar uma ação de TEATRO, que rompe linguagens, que se utiliza do drama de maneira criativa, ou não, que performa politicamente, que busca, que dialoga, e que fode com o espectador no bom sentido!

Filme Quem tem medo de Virginia Woolf? de Edward Albee, de 1966
Elizabeth Taylor e Richard Burton.
A imagem apresenta de modo grosso o contraste entre o patético,
a emoção, a ironia, aspectos do drama tradicional. 


Artigo: 
O drama do teatro Artes dramáticas fracassaram com público jovem
Diz autor escocês; brasileiros discutem crise GUSTAVO FIORATTI DE SÃO PAULO Expoente de geração que combateu tradições do teatro europeu, o dramaturgo escocês Anthony Neilson teme que o experimentalismo tenha sido um tiro no pé, afastando público, especialmente entre os jovens. Ele se refere, principalmente, à falta de repercussão de obras. O autor diagnosticou a crise e falou sobre o "envelhecimento" do teatro num bate-papo na semana passada em São Paulo e, também, em palestra na última terça no teatro do Sesi. Na opinião de Neilson, as artes dramáticas, ao lado de outros campos de expressão, não conseguiram usar a tecnologia para gerar debates internacionais. Hoje, ele compara, é fácil ter acesso a músicas pela internet, filmes são lançados em cópias, a literatura também criou plataformas digitais. Mas o teatro, artesanal por natureza, patina isolado em nichos de especialistas e pequenas plateias. "É possível transmitir peças por internet, mas quem quer ver um espetáculo pelo computador? Não estamos atingindo os jovens, e isso me preocupa", disse a uma plateia repleta de dramaturgos. "É importante ter o background da música, ser entretenimento. Não estamos nos comunicando da forma correta. Estamos fazendo peças de três horas, e isso nem sempre é preciso. Quem vê duas peças chatas de três horas não volta. A sensação é de ter sido molestado", brincou. Menos preocupado com o número de cabeças em suas plateias do que com um possível esvaziamento do experimentalismo, Antunes Filho tem opinião similar à de Neilson. "O teatro estava atrasado, e hoje está ainda mais." Para o diretor, a incansável busca pelo estilhaçamento do drama -o afastamento do objetivo puro e simples de contar uma história- caiu em um cenário vazio. "Essa calamidade pós-dramática insuportável, chata, aborrecida, provou-se que não dá mais", diz. Antunes brada contra à proliferação de cartilhas que incentivaram excessos do teatro autorreferencial. CONTRA A REALEZA Neilson pertence a uma geração que tentou aproximação com jovens por meio da renovação de linguagem e de proposições temáticas ""e admite não ter tido tanto êxito. Fez parte do chamado In-Yer-Face, grupo que abrigou, entre outros nomes, Mark Ravenhill, autor do niilista "Shopping and Fucking", com seus personagens jovens sem perspectiva. E também Sarah Kane, dramaturga que se matou em 1999, aos 28 anos, e tornou-se mito por sua peça "4.48 Psychosis", sobre depressão. Negar o passado e as tradições do teatro inglês ("ainda associado às instituições reais do país", diz o autor) também estava na lista de deveres. Só que, dez anos depois, a crise permanece. "Interatividade hoje é a palavra de ordem, mas, no teatro, ela assusta", conclui. Pesquisa de julho do Datafolha mostra que, em São Paulo, quem mais vai ao teatro tem entre 16 e 40 anos. Mas o número de quem não frequenta é alto em todas as faixas etárias. João Fonseca, diretor de peças como "Rock in Rio" e "Cazuza", acha que o teatro tem "dificuldade para entrar na casa das pessoas, como faz a música". Também é uma arte que não se associou a um tipo específico de vida social. "Jovens procuram programas onde podem paquerar." Leonardo Moreira (autor e diretor da nova geração, vencedor de dois prêmios Shell) diz que, na aproximação, não pode haver "olhar paternalista". "Não dá para nivelar por baixo. E não podemos menosprezar a capacidade de entendimento dos jovens."

Comentários

  1. Penso que o problema do esvaziamento do teatro vai além do que é tido como "hermetismo" que muitas vezes o teatro contemporâneo propõe-se a fazer.E, não só o teatro, como também a música, as artes plásticas e a dança atravessam sérios problemas na contemporaneidade, principalmente para aquela arte classificada pelo publico como de dificil compreensão, ou melhor, de dificil apreciação, como é o caso da musica classica, do "filme arte", da arte conceitual. Poderiamos então considerar esse tipo de arte tida como hermética por natureza, pproduzida para um público especifico? Penso que não, pois a arte é em si a contradição, e requer entrega. Mas como podemos nos entregar a algo tão oblíquo? Nem sempre a arte tem a obrigaçao de ser uma obra aberta. Se assim fosse, perderia sua essencia. Que graça teriamos ao olhar o quadro da Monalisa de Da Vinci, se tudo sobre a obra já tivesse sido desvendado? Que graça ainda teriamos em assistir Medeia, ou para sermos contemporaneos, porque ainda encenam Esperando Godot? Não seria o não-dito dessas obras que as tornam obras particulares e ainda atuais? Talvez o teatro contemporaneo com sua diversidade de signos, numa perspectiva de tornar-se universal mesmo fragmentado, assim como o homem pós-moderno, tenha se aproximado cada vez mais das artes de vanguarda com sua impenetrabilidade e incompreensão. Quiça, o problema ainda não seja o hermetismo teatral e seus experimentalismos, mas público preparado para evoluir em parceria com o tipo de teatro que se propóe. E nesse caso teatro e publico comungariam. É aqui que reside o distanciamento do teatro. Ele transita por transformações ñ alcançadas pelo público, assim, visto como algo distante. Trazendo para a área educacional e pensando a escola como espaço cultural, a ausência do teatro, mesmo com a disciplina de artes, vaticina o quão estranho parece ser ainda o teatro em nossa cultura, tanto no formato literário, via texto dramático, como a apreciacão de espetáculo.

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