Conto inacabado

Nada é impossível, exceto eu e você.

[deletada e fora do casulo do cabimento, ela destilou de sua saliva todo amor que restava e deu para o indigente sedento que rastejava por ali mesmo tão próxima aos seus pés]

 cala boca, docinho!
- as cordas estão soltinhas e ninguém sabe que é do chão cru, que nasce o botão rubro... aquilo que me finca e me inunda numa vermelhidão ácida, espessa, esse peso que me dobra ao caos necessário.
- diz agora, docinho: se derrete comigo? e agora? ou vai ter a petulância de tirar o espinho?
- não ouço mais seus círculos oleosos, aqui o chão se cava, e mais ainda se degela, então, eu respiro e te peço: afunde isso fundo nesta pele estriada, pronta para o corte, desejada a ser banqueteada. Eu sei que nada é impossível, e que sou isolada por ter delírios azuis, e sei que nada é tempo demais para se perder.
- vem, me deixa ser, me derreter aqui, ali, dentro e fora.
impossível é palavra inventada que deixa por ai vazios de nós.


Las rosas ensangrentadas

(1930) 

de Salvador Dalí


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